As e-bikes vieram para ficar?
Muitas vezes, quando aparece algo de novo e que foge muito àquilo a que estamos habituados, a nossa primeira reação é criticar, dizer que não faz sentido ou mesmo que não vai vingar. Aconteceu com a roda 29’’ no BTT, está a acontecer com os travões de disco na estrada. O mesmo se está a passar com as e-bikes (bicicletas com assistência elétrica).
Amigos, à semelhança da roda 29” no BTT, e dos travões de disco na estrada, as e-bikes vieram para ficar!
“Isso não é uma bicicleta!”, “As e-bikes são só para os velhos”, “Isso é batota!”, “Assim não treinas!”, etc… etc …
Confesso que mesmo eu, há pouco mais de um ano afirmava que só quando chegasse aos 60 anos iria ver utilidade em adquirir uma e-bike. Isto claro, antes de eu sequer ter experimentado uma.
E o problema reside mesmo neste detalhe. Quantos dos que proferem afirmações como as que exemplifiquei acima, já realmente experimentou uma e-bike?
Bem, neste momento e com mais de 6 meses de utilização regular de uma e-bike (de all-mountain) já me sinto com jurisdição suficiente para enumerar algumas vantagens e desvantagens das e-bikes e ao mesmo tempo desmistificar alguns preconceitos em redor das mesmas.
Mas antes é importante referir que não ganho quaisquer comissões na venda de e-bikes, ou em qualquer outro tipo de bicicletas.
Existem e-bikes citadinas, de estrada e de BTT. Mas a minha experiência é exclusivamente com as de BTT, mais propriamente nas versões de all-mountain/enduro. Cursos de suspensão generosos (acima dos 140mm), espigão de selim telescópico, pneus à altura dos trilhos mais agressivos, travões potentes capazes de parar os cerca de 25kg de bike e mais o peso do rider.
Quem tem uma bicicleta deste género não se contenta a percorrer estradões! Gosta de se atrever e divertir em trilhos sinuosos, técnicos, seja a descer, em plano, ou até naquelas subidas que com um bicicleta normal nem te atreverias a tentar fazê-las.
Bem, mas vamos lá então tentar esclarecer os mitos:
“Isso não é uma bicicleta!”
Sim, é uma bicicleta. Tem duas rodas, tem pedais e só anda se pedalares (exceto a descer claro!). Não tem acelerador.
A diferença para as convencionais é que tem um motor elétrico que te auxilia na pedalada, mais ou menos consoante o modo/nível de auxilio que selecionares, mas se parares de pedalar, o motor desliga de imediato.
Na prática o que o sistema faz é adicionar mais watts (potência) àqueles que consegues produzir. No entanto se atingires os 25km/h (norma europeia) ele deixa de te ajudar.
“As e-bikes são só para os velhos”
Nada mais errado!
Facilmente enumero uma série de utilizações e vantagens das e-bikes.
Mas para o texto não ficar muito extenso, fiquemo-nos por quatro:
1º Imaginem um grupo de amigos que gosta de pedalar. Mas há pelo menos um deles que tem uma condição física muito abaixo dos restantes. Esse elemento evita sair com os amigos porque sabe que vai sofrer, ou então não quer que estejam sempre a esperar por ele. Uma e-bike resolveria este desequilíbrio de andamentos.
Ou então imaginem um casal, em que ambos gostam de pedalar, mas raramente o fazem juntos porque os níveis de condição física são muito diferentes. Com a e-bike acabaram-se as desculpas para não pedalarem juntos. Só falta decidir se isso é bom ou mau ☺
2º Durante a semana só consigo arranjar pouco mais de uma hora para pedalar. Com uma BTT convencional isto não daria para mais que 10 a 15 quilómetros e um acumulado inferior a 600m, nos duros trilhos da Serra de Sintra. Acordar às 6 da manhã, preparar tudo, equipar, para percorrer menos de 15km?! Humm, melhor ficar na caminha.
Desde que tenho a eGenius nem penso duas vezes. Em menos de 1h30 faço mais de 20km com desníveis superiores a 1000 metros. Neste espaço de tempo consigo fazer 4 a 5 dos trilhos mais conhecidos da serra encantada! A diversão a percorre-los é exatamente igual. Saio de lá de barriguinha cheia e com um sorriso de orelha a orelha ☺
3º Nem sempre estamos com disponibilidade física para forçar a pedalada. Ou cansado do trabalho, ou dos treinos ou simplesmente não apetece sofrer muito! E então se for uma voltinha de e-bike? Selecionamos o modo trail, ou boost nas subidas mais inclinadas, e fazemos um dia mais suave a desfrutar na mesma os trilhos que mais gostamos.
4º Querem melhorar a vossa técnica de condução. O ideal é fazer o máximo de trilhos técnicos que o vosso tempo e disponibilidade física permitirem. Com a minha Scott Ransom ou com a Genius consigo habitualmente, em cerca de 3 horas, fazer umas 4 descidas. Nesse mesmo espaço de tempo, com a eGenius faço pelo menos 6, e saio de lá todo “partido” 😛
Terceiro mito: “Isso é batota!”
Batota em quê? Mas é batota divertirmo-nos?!
Ou estão-se a referir aos tempos no Strava? Caso não saibam, o Strava já tem a opção “bicicleta elétrica”. Ao selecionarmos este tipo de “exercício” só são considerados os tempos feitos com bicicletas elétricas. São outros KOM’s, outros PR’s, ou seja, classificações separadas.
Claro que há sempre os batoteiros. Aqueles que utilizam e-bikes mas selecionam “bicicleta de montanha”. Mas antes das e-bikes também já os haviam, e ainda há, os que se agarram aos carros/motos, ou outros truques para conseguirem entrar nas listas dos melhores tempos do Strava. É uma questão de consciência. Não há muito a fazer.
Também há cada vez mais competições, nomeadamente maratonas e provas por etapas em que permitem o uso de e-bikes. Mas claro está, com classificações à parte. Se bem que, devido à limitação dos 25km/h e à autonomia das baterias, nem sempre estas levam vantagem. Se o percurso de uma maratona for maioritariamente plano e/ou rápido, ou se for muito extenso, possivelmente seremos mais rápidos com uma BTT convencional.
E o último mito: “Assim não treinas!”
Desenganem-se! É certo que o esforço, sobretudo em subida, é menor e mais controlado. Mas considerando que em descida e em plano acima dos 25km/h não há ajudas, a linha da frequência cardíaca durante um treino com e-bike de BTT assemelha-se muito à de um treino com bicicleta de estrada em ritmo contínuo. Sem grandes picos mas também sem quebras significativas. As descidas sobretudo em trilhos de enduro são bastante intensas e exigentes a nível muscular, a frequência cardíaca dificilmente baixa dos 65-70% da máxima.
Acreditem, quando termino uma volta de e-bike estou todo partido!
Estas também são perfeitas para treinar a técnica e o fortalecimento muscular, nomeadamente o trem superior – braços, ombros, pulsos, mãos, core – ao mesmo tempo que fazemos um esforço de intensidade moderada contínua. É um bom substituto de uma volta de estrada, mas com a vantagem de não corrermos o risco de sermos atropelados. Aliás, cada vez mais considero o BTT menos perigoso que pedalar no meio do trânsito.
Claro que não são só vantagens. A autonomia limitada das baterias é um dos principais handicaps. Quase todos os sistemas têm 3 ou 4 modos. O modo mais económico dará para percorrer cerca de 80-100km, e o modo mais potente não ultrapassará os 30km. Mas tudo depende sobretudo da intensidade da pedalada e do desnível acumulado da volta. Mais inclinação menor duração da bateria. Pedalada mais vigorosa, idem.
Portanto, se a volta for longa temos que gerir muito bem a autonomia, usando sempre que possível o modo mais económico, o que significa maior esforço físico da nossa parte.
O segundo “problema” é quando atingimos em terreno plano velocidades superiores a 25km/h. O peso acrescido da bicicleta e o arrasto (fricção) do motor quando pedalamos, dificulta bastante a nossa progressão no terreno. É bem mais fácil atingirmos velocidades a rondar os 30km/h ou superiores com uma BTT convencional que com uma e-bike. Este arrasto é mais evidente em algumas marcas de motores (Bosch por exemplo) que em outras (Shimano por exemplo).
Uma e-bike de suspensão total com cursos superiores a 140mm pesam acima dos 23kg. No entanto o peso está bem distribuído, não prejudicando demasiado a condução. Os pneus também sendo mais largos conferem segurança acrescida, de qualquer modo há sempre um período de adaptação, sobretudo nos saltos/drops e nas curvas mais apertadas.
E com isto julgo que terei dito o essencial sobre o fenómeno recente das bicicletas assistidas, na esperança de ter ajudado a despir preconceitos.
Experimentem e logo me dirão
5 comentários
JOSÉ CERQUEIRA
Já experimentei e concordo com tudo o que o Gamito escreve… Só é pena que sejam tão caras.
Mario Silva
Respeito a opinião, mas parece-me tendenciosa e promocional. Esqueceu-se de mencionar um factor primordial, que é o efeito altamente negativo do peso. Aquilo que eu mais gosto numa bicicleta convencional é a manobrabilidade, a leveza, derrapar com facilidade nas curvas, saltar, e com o lastro das e-bike perdem-se todas essas boas sensações. É como conduzir um camião…
De qualquer forma fico contente que um ex-atleta goste.
admin
Mario, eu falei no peso no último parágrafo. E não me parece que seja assim tão grave! Com ela também tudo isso que referes. Tens imensos videos na net com riders a fazerem tudo com ebikes, como se de um bike “normal” se tratasse. Tudo depende do kit de unhas. De qualquer modo e como eu disse, as ebikes não são perfeitas, um dos problemas é a ainda pouca autonomia. Mas quando tenho menos tempo disponivel aproveito muito melhor esse tempo com uma ebike, já que consigo fazer o dobro dos trilhos no mesmo espaço de tempo (ou até menos).
José Jordão
Eu faço BTT a cerca de 20 anos e nos últimos 2 tenho electrica e é a 3ª e-bike que tenho e nunca me diverti tanto, o peso é uma falsa questão, uma bicicleta de enduro facilmente vai aos 14kg e a de DH aos 18/20, a minha actualmente pesa 21 e não sinto qualquer dificuldade em fazer uma trilho das pontes ou o da pedra branca, como diz o Gamito é uma questão de unhas.
O que vos posso dizer é que faço trilhos a subir a 15/20 km por hora quando no passado fazia a 5km/h, o gozo é muito maior e no final o esforço é idêntico tendo em conta que numa bicicleta não assistida demora-se em media 30/40min da Lagoa azul aos Capuchos, na eléctrica demora-se 10.
Claro que se formos a acompanhar um grupo de bicicletas não assistidas não da para transpirar, mas se fores só ou na companhia apenas de eléctricas transpiras e bem!!
Para quem faz enduro a diferença é fazer 4/5/6 descidas por manhã contra 1/2 comparativamente com uma bicicleta não assistida.
Mas por outro lado eu compreendo quem diz que faz bicicleta apenas para aumentar a forma física e por esse motivo as e-baikes não enganadoras, mas para mim o BTT é para diversão e não para sofrer e nesse capitulo as e-bikes cumprem na integra!!
Bruno Martins
Boa tarde,
Em relação ao peso e agilidade isso está a começar a mudar basta ver o caso da nova Specialized Turbo Levo SL em que obtiveram uma e-bike com 17 kgs em que as rewiews apontam para uma bicicleta, ágil e bastante mais parecida com uma bike normal, obviamente que o preço é elevado, mas significa que o paradigma das e-bikes está a mudar. Em relação à autonomia já se vêem bastantes modelos com baterias de 625w (Bosch) 700w (Specialized) e 750w no caso das Rothwild, também a shimano com o teck pack nas Focus permite duplicar a autonomia. E como o avanço dos dias muitas mais novidades viram no meu ver boas para quem acompanha o mercado das e-bikes e para quem como no meu caso usufrui das mesmas. Concordo plenamente com o Vítor em que com as e-bikes percorremos mais kms no mesmo espaço de tempo com o dobro da diversão. Eu que vivo nos Alpes fiquei completamente rendido. E a quem nunca experimentou deveria sem dúvida experimentar, a experiência que se tem é fenomenal.
Abraço e boas pedaladas a todos.